quarta-feira, 26 de março de 2008

Afinal, o que são células-tronco?

Perquntas e respostas sobre Células tronco.


1 - Como e quando foram descobertas as células-tronco, isto é: como descobriram que elas geram qualquer tipo de célula? Qual a função delas? Elas são todas iguais? Que tipo de doença pode ser tratada usando-se essas células? As células-tronco (CTs) adultas foram identificadas primeiramente por hematologistas interessados em melhorar os resultados dos transplantes no tratamento de leucemia. Em 1988, a utilização do sangue de cordão umbilical ou placenta curou uma criança leucêmica na França e constituiu a primeira cura com células-tronco adultas. Catherine Verfaille, em 1998, identificou as células-tronco na medula óssea (MO), estudando sua translocação do fígado e do baço para os ossos na circulação fetal e justificando a presença dessas células na placenta/cordão umbilical. Aqui no Brasil, Radovan Borojevic, que há 20 anos vem estudando a MO também com a finalidade de melhorar a aceitação nos transplantes medulares, foi pioneiro em utilizar o autotransplante de medula no tratamento do infarto do miocárdio em humanos, após verificar os resultados positivos obtidos experimentalmente em ratos por sua colaboradora, Masako Masuda. É discutível o que ocorre com as CTs autotransplantadas da MO nos órgãos lesados. Rosalia Mendes-Otero diz que estamos ainda na fase de alquimia, pois desconhecemos os processos celulares e moleculares que estão ocorrendo na medicina regenerativa. Têm-se acumulado informações de que as CTs produzem proteínas ou outros fatores que estimulam as CTs que se encontram nos órgãos (chamadas de “células progenitoras”), fazendo-as se multiplicar e gerando novas progenitoras, que se diferenciam e substituem as células que morreram na doença degenerativa. Assim, sabe-se que o fator denominado Notch-1 estimula as CTs da musculatura estriada (chamadas de “células satélites”), recompondo a massa muscular perdida. Isso é muito interessante, pois, sabendo-se quais são os fatores que agem sobre as células progenitoras que se encontram nos órgãos lesados, pode-se dispensar o transplante de CTs adultas ou embrionárias. Nance Nardi afirma que todos os órgãos possuem CTs que seriam resquícios de CTs embrionárias e as chama de CTs "embryo-like". Elas já foram identificadas, por exemplo, no coração. Esse órgão perde, todo mês, 94 mil fibras, que são repostas pelas CTs progenitoras de cardiomiócitos. Ainda não se sabe se elas geram qualquer tipo de célula, mas, sim, que existem CTs progenitoras em todos os órgãos e que todas têm a mesma morfologia: núcleo denso, grande ou pequena quantidade de citoplasma (relação núcleo—citoplasma grande) e são responsáveis pela manutenção de todos os nossos órgãos, pois perdemos trilhões de células por dia em todos eles.


2 - Quais seriam as principais fontes de células-tronco que poderiam ser citadas e como são armazenadas após a coleta? Como as células-tronco são implantadas e agem no organismo? E como podemos ter certeza de que elas serão duradouras? Para fins terapêuticos, atualmente utilizamos CTs encontradas na medula óssea, que, no autotransplante, são retiradas da bacia do paciente (sendo necessárias umas 150 perfurações) e, por cateterismo, introduzidas na região lesada (depois de filtradas para se retirarem os pedaços de ossos e selecionadas por centrifugação). Também podem ser usadas as células retiradas de cordão umbilical ou placenta, que, como têm pequena capacidade de gerar respostas imunológicas adversas, podem ser empregadas no tratamento de doenças degenerativas; mas, como nossa miscigenação é muito grande (e a compatibilidade fica em torno de 1 em 1 milhão), seu uso fica restrito ao transplante aparentado, enquanto não dispomos de um número maior de CTs em bancos públicos.


3 - Nos últimos meses, a mídia divulgou algumas informações mal explicadas que acabaram criando uma impressão exagerada a respeito dos reais benefícios que se pode alcançar com o uso das células-tronco (por meio do desenvolvimento de técnicas). O que concretamente pode ser alcançado? Pode-se pensar na cura para o mal de Alzheimer? Há possibilidade de se produzirem células nervosas com células-troco de uma pessoa e, depois, usá-las em outra? Realmente, a mídia tem informado muito mal e com muito exagero e prometido muito com base em resultados que ainda não foram adequadamente avaliados.Por exemplo: haveria possibilidade de as células-tronco da medula óssea injetadas em um coração enfartado gerar ossos? A resposta é não, pois essas células são responsáveis pela reposição óssea no local em que normalmente os ossos se encontram. Por outro lado, em diabete, Alzheimer e Parkinson, existem causas que estão determinado a morte acelerada das células no pâncreas ou cérebro e nada garante que, se as causas não forem eliminadas, as células substitutas não morrerão logo também.


4 - Que esperanças uma pessoa que sofre de ELA — esclerose lateral amiotrófica —, paralisia, diabete, mal de Parkinson, mal de Alzheimer, problemas cardíacos, aplasia medular, síndrome de Down, distrofia muscular ou aids pode ter com os avanços dessas pesquisas?As pessoas devem ter consciência de que a terapia com células-tronco não é, de modo algum, algo que possa dar conta de todos os males. Ela trata anemia aplástica, infarto de miocárdio, mas não doenças que resultam de aneuploidia, como síndrome de Down; doenças auto-imunes, como ELA; e diabete, se não forem exterminadas as causas, eliminando-se completamente as células de memória do sistema imune. Quanto a Alzheimer e Parkinson, os neurônios são destruídos por proteínas citotóxicas, cujo aparecimento no cérebro se desconhece — assim, de nada adianta introduzir CTs, que serão mortas também por tais proteínas. Como se vê, existem doenças degenerativas que só podem ser curadas se for descoberta a causa da morte celular intensa.


5 - Guardar o cordão umbilical dos bebês pode ter alguma utilidade para eles no futuro? Sim. Conforme a doença que eles apresentarem, o cordão poderá servir em um autotransplante e curar essa enfermidade.


6 - Existem pessoas que já receberam células-tronco e se recuperaram de alguma doença? Cite algum exemplo. Sim. No Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, alguns pacientes com infarto do miocárdio saíram da fila do transplante. Também há um caso positivo de paciente com derrame cerebral e ainda bons resultados com pacientes chagásicos (na FioCruz, Bahia).


7 - Por que é tão importante fazer pesquisas com as células-tronco do tipo embrionário? Como elas são conseguidas? A retirada delas não prejudica o embrião? Por que há tanta discussão sobre esse assunto em relação à questão ética dessas pesquisas? Para se obterem as células-tronco embrionárias humanas, é preciso matar o embrião. Essas células são arrancadas mecanicamente, usando-se um microscópio. Essa discussão se deve ao fato de que o embrião humano é um ser humano vivo. E uma pessoa não deve ser congelada nem tão pouco assassinada. Está aí o problema ético, pois é um ser humano e único, que não deve ser reproduzido, senão poderíamos fazer como no livro Admirável Mundo Novo: produzir seres humanos de maneira a satisfazer nossas necessidades.


8 - Se um tratamento com células-tronco ou clonagem for feito errado, que danos pode causar à pessoa que recebeu as células? A utilização de células não- diferenciadas não poderia causar uma multiplicação desenfreada dessas células, havendo o risco de surgir um câncer, por exemplo? Atualmente, os tratamentos são feitos somente com CTs adultas e em estudo continuado, pois ainda não houve um acompanhamento por tempo suficiente para comprovar sua eficácia e se não produzem malefícios. Com CTs embrionárias, só se sabe de um relato desastroso na Rússia, em que foram injetadas na face e na cabeça de um paciente CTs embrionárias humanas com fins de rejuvenescimento. Duas semanas depois, a pessoa continuava com rugas, cabelos brancos e ainda com o rosto e a cabeça cheios de teratocarcinomas. Culturas desse tipo de célula têm apresentado crescimento, diferenciação anárquica e, depois de algum tempo, células com características cancerígenas.


9 - Qual a diferença entre terapia gênica e clonagem terapêutica? Na terapia gênica, introduzia-se no paciente o gene que faltava por meio de “adenovírus” contendo o gene de interesse. Ela teria sucesso se a doença fosse causada por alteração em apenas um gene, mas isso é raro. Não se sabe qual é a carga viral necessária, e tal terapia foi desastrosa. Em 1999, essa técnica foi proibida, pois a morte de um jovem de 18 anos no dia seguinte à aplicação revelou mais de 600 efeitos adversos, além de terem ocorrido umas 300 mortes não comunicadas com a desculpa de que se tratava de pacientes terminais. Como se vê, não se pode confiar na honestidade de cientistas. O jovem de 18 anos tinha vivido muito bem com a dieta adequada, não sendo necessária a terapia gênica, que o matou em decorrência de uma reação imunológica intensa causada pela sobrecarga de “adenovírus”, levando à falência múltipla dos órgãos.


10 - É possível gerar órgãos isoladamente em recipiente com células-tronco? Como? Esse é um dos objetivos da utilização de CTs, a chamada bioengenharia, proposta por Cohen e Leor. Alguns cientistas, usando CTs adultas de dentes de leite, estão tentando produzir novos dentes. Eles já tiveram sucesso com dentes de ratos: sobre um biopolímero em forma de dente, implantaram CTs. Em seguida, tal "mistura" foi colocada na mandíbula de um rato e, depois de alguns dias, cresceram alguns dentes.


11 - Como é feita uma clonagem? É possível clonar células-tronco? Na clonagem, é realizada uma transferência nuclear: um núcleo de uma célula adulta é retirado e colocado no lugar do núcleo de um óvulo (que também foi removido). Depois, é provocado um estímulo elétrico, e espera-se que o óvulo se desenvolva até a fase de blastócito para, então, implantá-lo no útero de uma fêmea. Essa experiência deu certo com ovelhas, camundongos, gatos e vacas, mas não com ratos, cachorros e primatas. Nos humanos, sabe-se que, para se ter um desenvolvimento correto, são necessárias proteínas trazidas pelo espermatozóide que orientam a divisão celular e a formação adequada do embrião (e, conseqüentemente, seu desenvolvimento). Ou seja, o espermatozóide não somente traz o DNA paterno, mas tem papel importante no desenvolvimento adequado do ser humano.

(Marina)

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